Sociedade Brasileira de Pediatria alerta para riscos de ‘drogas digitais’

Um ruído repetitivo, que deve ser ouvido com fones em alto volume, cuja duração média é de 30 minutos. A diferença de frequências entre os lados esquerdo e direito, chamado de som binaural, promete alterar as ondas cerebrais, o que pode causar diferentes sensações no usuário. Essa é uma explicação reduzida da prática de escuta que tem sido chamada de “droga digital”. 

A experiência tem se difundido pela internet. A plataforma que oferece os áudios tem quase 200 mil seguidores nas redes sociais e mais de 50 mil downloads na Google Store. O usuário precisa comprar o aplicativo para baixar em seu celular. Para ter acesso a todos os áudios, ainda é necessário desembolsar valores adicionais. 

O DJ Italo Guimarães (25) conta que experimentou a plataforma quando ainda era adolescente. “Eu deitei no meu quarto, vendei os olhos, coloquei o fone no máximo, encontrei a posição. Fiz tudo que eles estavam indicando para a gente a fazer, mas não cheguei a dar um barato”, relata. A opinião sobre a eficácia dos áudios para alterar estados emocionais é contraditória. Enquanto alguns usuários relatam ter percebido mudanças ocorridas a partir da escuta, outros são categóricos em dizer que não passa de placebo e efeito sugestionado. 

A despeito dos efeitos causados, a popularização do uso das drogas digitais tem preocupado a comunidade médica, especialmente em crianças e adolescentes. Por isso, a Sociedade Brasileira de Pediatria publicou uma nota técnica alertando para o risco do consumo de drogas digitais e os danos neurais e auditivos que podem causar. 

“A capacidade do cérebro para crescer, desenvolver e alterar a sua estrutura em função da estimulação externa é denominada como neuroplasticidade. A audição é um sentido da percepção fundamental para o desenvolvimento da linguagem oral e escrita e do aprendizado dos conceitos e das relações sociais. A estimulação exagerada e contínua pode ocasionar a perda da neuroplasticidade e assim, afetar as conexões necessárias para o desenvolvimento cerebral e mental saudável”, alerta a nota. 

A coordenadora do Grupo de Trabalho Saúde Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra. Evelyn Eisenstein, argumenta que muitas vezes os pais não sabem o que os filhos estão fazendo no quarto. “Muitas vezes estão vendo nas telas conteúdos inapropriados e, nesse caso, áudios inapropriados. Então, é importante sempre prestar atenção na intensidade do som. Nada ultrapassando 60 e no máximo 70 decibéis para crianças e adolescentes.

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