Setenta mil famílias são atendidas com programa que reduz desperdício de alimentos em feiras de Manaus
De janeiro até março deste ano, mais de cem toneladas de alimentos foram doadas por feirantes e donos de supermercados de Manaus ao Programa Estadual de Combate e Prevenção ao Desperdício e à Perda de Alimentos, do Governo do Amazonas. A iniciativa coleta frutas, verduras e legumes em boas condições para abastecer a despensa de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social. Só em 2022, cerca de 70 mil famílias foram alcançadas pela ação.
Criado pelo governador Wilson Lima, em 2019, o programa é gerenciado pela Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror). Em três anos, foram arrecadadas 362 toneladas de alimentos, o que beneficiou algo em torno de 256 mil famílias amazonenses.
“Em 2018, tínhamos o seguinte dado: 43,7% da população manauara estava em insegurança alimentar grave, ou seja, não tinha o que comer. Outro ponto é que nós tínhamos 90 toneladas de alimentos que eram desperdiçados nas 43 feiras de Manaus por semana. Nós precisávamos gerar uma política pública para resolver esse problema”, disse o coordenador do programa, Carlos Henrique da Conceição.
Ele destaca a importância do trabalho do Governo do Estado em nível mundial, tendo em vista a agenda da Organização das Nações Unidas (ONU), para 2030, com 17 Objetivos Sustentáveis. Conceição explica ainda que a iniciativa atende outra linha de aproveitamento dos produtos, que é a compostagem e agricultura, executada em duas escolas do estado.
“É a sensibilização do governo de não estar só olhando a insegurança alimentar do estado, mas principalmente gerando política pública para resolver. A gente tem o Prato Cheio e a gente tem também o Programa Estadual de Combate ao Desperdício, que vem em uma linha muito diferente do que Manaus estava acostumada, que é literalmente lidar com a comida que poderia ser jogada fora”.
Descarte – A Feira da Manaus Moderna é um dos locais onde o programa executa a mobilização para doações ao menos duas vezes na semana. Em todas as feiras, o processo conta com o apoio do Mesa Brasil, do Serviço Social do Comércio (Sesc/AM), e da Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento, Centro e Comércio Informal (Semacc), da Prefeitura de Manaus.
No local, as equipes percorrem as bancas de frutas, legumes e verduras sensibilizando os feirantes. Ao programa, os permissionários entregam tanto doações de alimentos quanto produtos que não foram comprados pelos clientes.
A permissionária Monique Costa, de 37 anos, trabalha há quatro anos na feira vendendo legumes, frutas e verduras, e afirma que a doação de produtos para o Programa de Redução de Desperdício dá um destino diferente para o que seria descartado no lixo.
“O que a gente tem de avaria, alguns produtos que estão machucados e que não dá para fazer a venda para os nossos clientes, a gente vai separando para o programa para fazer essas doações. Tenho certeza de que chega a muitas famílias que precisam desses alimentos”, disse a permissionária.
Comunidade atendida – Os alimentos coletados pelo programa atendem, ao todo, cerca de 600 instituições cadastradas na Sepror, na Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas) e no Mesa Brasil. Todo o material doado passa por triagem e pesagem, e depois é destinado às instituições que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade social.
No bairro Lírio do Vale, zona oeste de Manaus, uma das associações beneficiadas é o Movimento Amigos da Região Metropolitana de Manaus, da Igreja Labareda de Fogo. O grupo atua junto à comunidade por meio da doação de alimentos.
Representante da associação, José Pedrosa afirma que o programa tem sido especial para os moradores da comunidade, principalmente num cenário de pós-pandemia.
“A gente recebe essas doações e tenta levar da melhor maneira possível para essas pessoas, principalmente agora nessa situação que estamos vivendo, saindo de uma pandemia. A gente vê as pessoas muito carentes, precisando, que não têm mesmo o que comer, muitas vezes desempregadas. É uma mão amiga, e a gente está muito grato, muito feliz”.
Morador da área, Ítalo Barreto, de 20 anos, foi atendido pela doação repassada à igreja. “Hoje nós estamos em um momento difícil, desempregado, e ajuda bastante. É um alimento útil que nós usamos diariamente, frutas, legumes. É muito gratificante e, querendo ou não, ajuda bastante. Todo mundo sabe que está caro demais (os alimentos) e, muitas vezes, a gente não tem condições de comprar”.