Porque 2020 foi o ano da Sustentabilidade
2020 foi um ano que nenhum de nós irá esquecer tão cedo. A pandemia do Coronavirus atingiu a humanidade de forma extrema, impactando países, nações e a sociedade como um todo. Ainda é difícil calcular os danos gerados por tudo isso, mas sabemos que irá reverberar por algum tempo. Por outro lado, é inegável o papel que essa situação teve em impulsionar uma grande transformação, tanto em nível individual quanto no ambiente organizacional.
Ainda em janeiro, quando a Covid-19 não era uma realidade de nível global, o ano começou com uma grande discussão no Forum Econômico Mundial, em Davos. O debate, que reuniu CEOs de grandes empresas do mundo todo, propôs uma reformulação no capitalismo, transcendendo o interesse dos acionistas e englobando também os stakeholders, que são todos os grupos impactados direta ou indiretamente pelas práticas da empresa – incluindo o planeta.
O recado foi dado e ouvido. Além de mudar a forma de se fazer negócios, esse novo conceito de capitalismo chama as empresas para assumir responsabilidade perante a sociedade, um novo tipo de contrato social. Vimos isso acontecendo fortemente no ano passado, onde grandes empresas se tornaram agentes de transformação na realidade de muita gente, se engajando em projetos e iniciativas sociais e desenvolvendo formas de lidar com os impactos socioeconômicos causados pela situação.
No primeiro semestre de 2020, um estudo realizado pela agência global Edelman identificou que 96% dos entrevistados esperam que marcas se juntem aos diferentes setores e governos para solucionar a crise desencadeada pela Covid-19, além de grande parte esperar que as empresas protejam a segurança e o o bem estar de seus fornecedores e colaboradores – mesmo que tenham que abdicar de grandes marcas financeiras durante esse período. Hoje vemos o resultado. Recentemente, em pesquisa conduzida pela TM20 e Brazil Panels, foi constatado que empresas como Natura, Itaú, MagazineLuiza e Ambev estão no topo da lembrança dos entrevistados como marcas que mais causaram impacto positivo na sociedade durante a pandemia.
O Movimento Black Lives Matter também inspirou muitas mudanças. Nos quatro cantos do planeta, pessoas foram às ruas para se manifestar contra o racismo e ampliar as discussões acerca do que conhecemos como racismo estrutural. Isso foi muito importante para alavancar as pautas de diversidade dentro das empresas, não só a racial, mas também de gênero, idade, religião e opção sexual.
Outro tema que ganhou força foi o ESG (Meio ambiente, social e governança), especialmente no mercado financeiro. Apesar de não ser um conceito novo, em 2020 a sustentabilidade liderou as discusões no ambiente corporativo. Grandes gestoras de ativos, como a BlackRock, anunciaram publicamente compromissos em rever suas políticas de investimentos, e a brasileira XP criou uma área de “sustainable wealth” para integrar o tema à gestão de patrimônio dos clientes. O processo de integração do ESG possibilita olhar à empresa de forma integrada e holística, avaliando os aspectos econômicos e financeiros, sem descartar as questões sociais, éticas e sustentáveis.
Impactando de forma transversal as discussões sobre o tema de sustentabilidade está também a emblemática eleição de Joe Biden, nos Estados Unidos. Com uma meta ambiciosa de zerar as emissões líquidas de carbono do país até 2050, o presidente eleito promete retomar a participação no Acordo de Paris e clamar o papel de protagonista nessas discussões. Isso impacta a economia de forma global, além de estimular uma transição verde de todo o ambiente corporativo. O esforço multilateral para a preservação ambiental deve gerar novas oportunidades – inclusive no Brasil – impulsionadas pela inovação e uma economia mais verde e inclusiva.
A história da humanidade nos ensina que os momentos de grandes crises também são momentos de renascimento nas artes e no pensamento. No século XXI, isso aponta para uma nova era de inovação, crescimento e aprimoramento da inovação a serviço dos desafios sociais e ambientais. 2020 foi um ano difícil, triste e complicado, porém também nos apresentou uma oportunidade de reflexão e reinvenção. Adaptabilidade é a palavra chave.