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Design autoral ganha novas formas com impressão 3D

A tecnologia de impressão 3D, antes restrita a laboratórios industriais e à prototipagem, tornou-se um vetor de transformação no design de interiores e na economia criativa. O crescimento global desse segmento reflete a incorporação de soluções digitais aos processos artesanais e ao consumo consciente. De acordo com levantamento da consultoria Grand View Research, o mercado mundial de impressão 3D deve alcançar US$ 88,2 bilhões até 2030, registrando taxa média anual de crescimento de 23,5% entre 2024 e 2030. No Brasil, a adoção da manufatura aditiva começa a se expandir para ateliês e estúdios de criação, especialmente em polos de design autoral como Belo Horizonte e São Paulo.

Entre os exemplos dessa convergência entre inovação e artesania está o estúdio mineiro "Otal", criado em Belo Horizonte pelo designer Rhodes Madureira. A proposta de um negócio nasceu de forma despretensiosa: um perfil nas redes sociais voltado ao design de interiores com processos manuais no formato "do it yourself", o famoso "faça você mesmo", tipo de conteúdo que se tornou febre viral nas redes. O olhar autoral e o tom divertido e acessível renderam ao criador mais de 366 mil seguidores, formando uma comunidade engajada em torno do design contemporâneo ao estilo handmade. Fruto dessa conexão e da visibilidade alcançada pelo perfil "@OTaldoRhodes", nasceu a marca "Otal", com uma proposta de identidade de marca que combina inovação, estética e propósito no uso das impressões em 3D para criação e produção das peças, o que garante a autenticidade da marca.

As peças desenvolvidas pela "Otal", como luminárias, incensários e esculturas decorativas, são impressas camada por camada com materiais biodegradáveis e finalizadas manualmente. O processo, que combina precisão tecnológica e acabamento artesanal, reduz desperdícios e elimina a necessidade de estoques elevados, características valorizadas por um público que busca design sustentável e de proximidade. Segundo Madureira, "a impressão 3D permite criar de forma mais consciente, com menor impacto ambiental e maior autonomia criativa, o que redefine a relação entre o designer, o produto e o consumidor".

A linguagem estética do estúdio reflete a pluralidade do design brasileiro contemporâneo. Suas coleções têm origem em referências culturais e experiências sensoriais. A coleção Holi, por exemplo, é inspirada no tradicional Festival das Cores da Índia, com peças translúcidas e vibrantes que simbolizam alegria e renovação. Já a linha Candy apresenta tons pastéis e atmosfera lúdica voltada a ambientes de descanso e quartos infantis, enquanto a luminária Duas Luas introduz texturas vazadas e composições de luz que remetem ao imaginário místico. Para Madureira, "as ideias vêm de várias inspirações cotidianas e movimentos culturais; assim como o design brasileiro, a ‘Otal’ é diversa, mas mantém uma assinatura própria que conecta todas as criações".

O avanço das tecnologias digitais tem estimulado novos modelos produtivos em pequena escala. De acordo com o relatório "3D Printing Market 2025–2033", publicado pela consultoria IMARC Group, a manufatura aditiva deve atingir US$ 125,9 bilhões em 2033, com crescimento médio anual de 17,9%. A tendência indica que estúdios independentes, especialmente na América Latina, ganham espaço ao combinar design autoral e produção tecnológica. No Brasil, esse movimento contribui para descentralizar o setor e reforçar a competitividade das economias regionais criativas.

A "Otal" está inserida nesse contexto de inovação e vem ampliando sua presença para além do ambiente digital. As criações do estúdio estão disponíveis em lojas colaborativas, como a Endossa, rede que tem como proposta fomentar o empreendedorismo criativo, e na Galeria 385 em Belo Horizonte, voltada à curadoria de peças autorais. O modelo de distribuição privilegia a produção sob demanda e o contato direto com o consumidor, ao mesmo tempo em que se prepara para integrar marketplaces especializados e redes varejistas de design até 2026.

O crescimento da manufatura digital e o surgimento de iniciativas como a "Otal" evidenciam uma transição relevante no design de interiores: a de um modelo baseado em escala industrial para um sistema de produção personalizada, sustentável e orientada pela experiência. Ao unir tecnologia e identidade cultural, o design brasileiro reafirma sua vocação para inovar sem perder o vínculo com a sensibilidade artesanal que o caracteriza.