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Consumo de bebidas alcoólicas gerou custo de R$ 18,8 bilhões

Segundo os dados apresentados em publicação realizada pela Fiocruz, o consumo de bebidas alcoólicas gerou um custo de R$ 18,8 bilhões ao Brasil em 2019. Conforme informado na publicação do estudo "Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil", desse total, R$ 1,1 bilhão correspondem a custos diretos com hospitalizações e procedimentos ambulatoriais no Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto R$ 17,7 bilhões se referem a perdas de produtividade, aposentadorias precoces e licenças médicas decorrentes de doenças associadas ao consumo de álcool, conforme informado no estudo.

O relatório aponta dados sobre mortalidade que mostram uma média de 12 óbitos por hora relacionados ao álcool no país. Dos 104,8 mil registros de mortes em 2019, 86% ocorreram entre homens, principalmente devido a doenças cardiovasculares, acidentes e violências. Entre as mulheres, que representaram 14% das mortes, mais de 60% dos casos estão ligados a doenças cardiovasculares e diferentes tipos de câncer. Conforme detalhado no estudo, os custos previdenciários atribuíveis ao consumo de álcool atingiram R$ 47,2 milhões, sendo 78% relacionados aos homens.

O estudo da Fiocruz também revelou que as mulheres apresentam menor prevalência de consumo de álcool, com 31% declarando ter bebido nos 30 dias anteriores à pesquisa, contra 63% do público masculino, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2019). Conforme informado na publicação, essa diferença reflete também o comportamento feminino de buscar atendimento médico preventivo com mais frequência, enquanto os homens tendem a procurar serviços de saúde apenas quando há complicações mais graves.

Sobre o assunto, Danilo Piola, médico psiquiatra e responsável pela Clínica de Recuperação Clínicas Vitale, afirmou que o levantamento da Fiocruz reforça uma preocupação que vai além do impacto financeiro imediato e que a sociedade está diante de uma questão de saúde pública que exige planejamento estratégico de longo prazo. Danilo continuou dizendo que o álcool, diferentemente de outras substâncias psicoativas, é amplamente aceito socialmente, o que dificulta políticas de restrição e aumenta a exposição de adolescentes e jovens ao consumo precoce. "O futuro das políticas públicas de saúde deve caminhar para além da assistência hospitalar, incorporando investimentos em programas de prevenção dentro das escolas, campanhas educativas mais incisivas e incentivo ao tratamento precoce da dependência".

O relatório aponta dados ainda sobre custos ambulatoriais, mostrando que 51,6% dos gastos são atribuíveis ao público masculino. Apesar disso, a diferença entre homens e mulheres é menor no atendimento ambulatorial, já que elas representam quase metade dos atendimentos, mesmo com menor prevalência de consumo. A faixa etária com maior incidência de atendimento está entre 40 e 60 anos, com 55% dos custos relacionados às mulheres e 47,1% aos homens.

Segundo o levantamento, o consumo abusivo de álcool entre mulheres apresentou aumento significativo nos últimos anos. Dados do Vigitel indicam que, entre 2006 e 2023, episódios de ingestão de quatro ou mais drinques em uma mesma ocasião quase dobraram entre o público feminino. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2019) aponta que 67% das meninas já haviam consumido álcool antes dos 17 anos, enquanto entre os meninos o percentual foi de 60%. Conforme alertam especialistas, essa tendência sugere um aumento do impacto do álcool sobre a saúde pública e os custos econômicos relacionados.

Perguntado sobre o estudo, Danilo Piola disse que o crescimento do consumo abusivo de álcool entre as mulheres, especialmente em faixas etárias mais jovens, é um sinal de alerta que não pode ser ignorado e o que antes era um fenômeno predominantemente masculino, hoje começa a se equilibrar, ampliando a pressão sobre o sistema de saúde e elevando o risco de doenças crônicas, dependência e comprometimento da vida social e familiar. "Danilo afirma também que essa mudança de perfil exige que políticas públicas e estratégias de prevenção sejam adaptadas, levando em conta as especificidades do público feminino e dos adolescentes. O futuro das ações de enfrentamento deve priorizar educação, acompanhamento psicológico precoce e programas de apoio que contemplem igualmente homens e mulheres, como ocorre na unidade da "Clínica de Recuperação em Goiânia, Goiás". Se não houver intervenção efetiva, estaremos diante de uma geração exposta a consequências graves, tanto no campo da saúde quanto na produtividade econômica do país".

Ainda sobre a publicação, o levantamento considerou apenas dados públicos de nível federal e custos do SUS, não incluindo despesas estaduais, municipais ou da rede privada, o que indica que o custo real do álcool para a sociedade brasileira é possivelmente ainda maior. O relatório aponta dados que reforçam a necessidade de políticas públicas de prevenção e medidas como a adoção de imposto seletivo sobre bebidas alcoólicas, recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para reduzir o consumo e seus impactos na saúde e economia do país.