justiçaMeio Ambiente

Instituto Puxirum lança diagnóstico sobre saneamento e resiliência climática na RDS do Tupé e anuncia novo projeto para comunidades ribeirinhas

Estudo evidencia desafios estruturais em saneamento e energia e servirá de base para políticas públicas voltadas à Amazônia rural

O Instituto Puxirum, em parceria com a Oca Amazônia e a Iniciativa Saneamento Inclusivo, lançou o Diagnóstico de Saneamento da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé, documento que evidencia desafios estruturais de saneamento e energia em um território habitado por 768 famílias distribuídas em seis comunidades ribeirinhas e indígenas. O estudo contou com apoio da Fiocruz Amazônia nas análises laboratoriais e foi desenvolvido entre 2024 e 2025. O documento completo pode ser acessado, na íntegra, em: https://bit.ly/diagnostico_tupé.

O levantamento identificou vulnerabilidades críticas relacionadas à saúde coletiva e à resiliência climática. Entre os principais achados, estão a contaminação microbiológica em todos os poços avaliados; a inexistência de sistemas estruturados de esgotamento sanitário, com uso predominante de fossas rudimentares; e falhas na coleta e destinação de resíduos sólidos, com descarte irregular e queima a céu aberto.

A pesquisa também mostrou que, embora 93% dos domicílios tenham cobertura elétrica, há interrupções frequentes que podem durar até 20 dias consecutivos, comprometendo o abastecimento de água e agravando a vulnerabilidade das comunidades em períodos de seca. Como consequência, persistem doenças de veiculação hídrica e aumentam os riscos associados às secas severas e cheias extremas.

Para a médica Paula Lopes, presidente do Instituto Puxirum, o diagnóstico reflete uma realidade comum na Amazônia rural.

“O que vemos no Tupé é um retrato da Amazônia rural: falta de água segura, esgoto e energia estável fragilizam a saúde e aumentam a vulnerabilidade diante das mudanças climáticas. O Puxirum tem o compromisso de transformar esse cenário com soluções comunitárias, baseadas em ciência e diálogo com os modos de vida tradicionais”, afirmou.

Integração com políticas públicas

O estudo foi entregue à Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Semmasclima), com o objetivo de subsidiar tecnicamente a revisão do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB), atualmente em andamento.

Atualmente, o PMSB não contempla o saneamento rural, o que representa uma lacuna que afeta diretamente as populações ribeirinhas e indígenas da capital. Com a inserção dessa componente, Manaus poderá integrar territórios rurais e tradicionais ao planejamento do município, estruturar políticas mais inclusivas e acessar recursos federais relacionados ao Programa Nacional de Saneamento Rural (PNSR), fortalecendo o enfrentamento das desigualdades territoriais.

Próximos passos: projeto “Puxirum d’Água”

Como desdobramento do diagnóstico, o Instituto Puxirum anunciou o início, em 2026, do projeto “Puxirum d’Água”, voltado à adaptação e fortalecimento da resiliência climática na RDS do Tupé. A iniciativa terá como foco a reestruturação dos sistemas de abastecimento de água, a implantação de bombeamento movido à energia solar e a capacitação comunitária para operação e gestão desses sistemas, promovendo autonomia e governança local.

O projeto será desenvolvido em diálogo com governos locais, instituições de pesquisa, parceiros filantrópicos, gestão da reserva e associações comunitárias, transformando o Tupé em um território de aprendizado e inovação para soluções comunitárias replicáveis em outras regiões da Amazônia.

A presidente da comunidade São João do Tupé, Cleiciane Souza, destacou o impacto positivo da atuação do Instituto na região.

“A presença do Instituto Puxirum na comunidade é muito importante. Eles realmente têm iniciativas que trazem melhoria de vida para nós. Esse estudo é importante para que todos enxerguem a realidade em que vivemos. O Puxirum d’Água já é muito aguardado por aqui”, afirmou Cleiciane.

Compromisso com a justiça socioambiental

Com o lançamento do diagnóstico e o anúncio do novo projeto, o Instituto Puxirum reafirma seu papel como articulador entre comunidades tradicionais, ciência e políticas públicas, destacando que o saneamento rural e a transição energética justa são pilares fundamentais para a justiça socioambiental e para a adaptação da Amazônia às mudanças climáticas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *