Industrialização da construção civil ganha força no Brasil

A industrialização da construção civil vem mudando a maneira como edifícios e infraestruturas estão sendo planejados e executados no Brasil. Essa tendência, já consolidada em países desenvolvidos, tem ganhado força no mercado nacional, trazendo benefícios significativos em termos de eficiência, qualidade e sustentabilidade.

Um dos principais pilares da industrialização é a utilização de métodos construtivos pré-fabricados. Componentes como paredes, vigas e lajes são produzidos em fábricas especializadas, sob rigorosos controles de qualidade e, posteriormente, montados no canteiro de obras. De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), essa prática tem contribuído para reduzir o tempo de construção, minimizar desperdícios e otimizar o uso de materiais.

Conforme explica o engenheiro civil Guilherme Clementino, o aumento de preços de insumos como cimento, aço e madeira têm causado desafios para as construtoras manterem a viabilidade econômica de seus projetos. “É crucial que o setor se adapte, buscando soluções que otimizem recursos e garantam a eficiência na execução das obras, ao mesmo tempo em que se preparam para as flutuações do mercado.”

Segundo a Sondagem Nacional da Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da CBIC, o nível de atividade da Construção alcançou, em junho de 2024, o maior patamar dos últimos 12 meses, chegando a 49,9 pontos.

No entanto, o setor permanece com os custos pressionados. De janeiro de 2020 até junho de 2024, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) aumentou 44,02%, enquanto a inflação oficial do País cresceu 30,47%.

Apesar dos desafios, a industrialização da construção civil tem se apresentado como uma resposta inovadora às demandas contemporâneas do setor. Segundo o especialista, essa abordagem não apenas maximiza a eficiência do processo construtivo, como também assegura um controle de qualidade superior. 

“Um projeto de construção em off-site, ou seja, fora do local onde a obra será erguida, deve ser fundamentado em um alto nível de industrialização, priorizando a execução de um volume significativo de acabamentos em um ambiente controlado e fabril”, explica Clementino, que há 12 trabalha com industrialização.

“Essa estratégia não só reduz o tempo total de construção, como também diminui o impacto de condições climáticas adversas e melhora a segurança dos trabalhadores, que ficam menos expostos a riscos durante a execução de tarefas mais complexas”, completa o engenheiro mestre em Avaliações e Perícias de Engenharia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).

Impacto positivo

Clementino pontua que o impacto dessa tendência é evidente na competitividade do setor. Empresas que adotam métodos industrializados conseguem oferecer prazos de entrega mais curtos e preços mais competitivos, atendendo a um mercado cada vez mais dinâmico.

Com a industrialização, ao transferir a maior parte dos acabamentos para a fábrica, os projetos se beneficiam de condições ideais de trabalho, com controle de temperatura, umidade e iluminação, além de permitir a utilização de tecnologias avançadas e mão de obra especializada. “Isso resulta em produtos com acabamentos mais uniformes e de maior qualidade”, explica Clementino.

Para o engenheiro, a tecnologia off-site representa uma resposta estratégica para os desafios atuais da construção civil. “À medida que o setor busca soluções inovadoras para contornar a escassez de mão de obra e os altos custos, é provável que a industrialização e a construção modular ganhem cada vez mais espaço, impulsionando a transformação do setor”, avalia.

Busca por profissionais

O mercado tem registrado bons resultados com a contratação de mão de obra. O levantamento da CBIC aponta que o setor criou mais de 159 mil novos postos de trabalho com carteira assinada apenas nos primeiros cinco meses de 2024. Deste total, a construção de edifícios foi responsável por 42,48% dos novos empregos (67.622 vagas). Já os serviços especializados para a construção contribuíram com 32,93% (52.428 novas vagas).

“Ao adotar a industrialização e o off-site construction, o setor da construção civil pode alcançar maior produtividade e qualidade, alinhando-se às demandas contemporâneas por eficiência e sustentabilidade”, ressalta o engenheiro.