ONU prioriza políticas para águas subterrâneas em 2023
O geólogo José Paulo Netto, presidente da ABAS – Associação Brasileira de Águas Subterrâneas esteve entre as personalidades brasileiras presentes na Cúpula das Águas Subterrâneas das Nações Unidas, em Paris, realizada de 6 a 8 de dezembro e que reuniu na sede da UNESCO em Paris, representantes de instituições que trabalham o tema em todo o mundo.
O evento resultou na elaboração de um documento que deve nortear a Conferencia Mundial de Água em 2023, marcada, para março em Nova York, 45 anos após a primeira Conferência em Mar del Plata, em 1977, o que explica a urgência de novas resoluções diante das alterações climáticas dos últimos anos.
Assim como em Paris, a Conferência da Água de Nova Iorque vai propor políticas públicas globais em torno do recurso e convocar os governos e a comunidade internacional a aumentar o conhecimento e o investimento em Uso Sustentável e Gestão de Águas Subterrâneas.
Encontros bilaterais
A Cúpula da ONU de Paris teve 12 sessões temáticas e 19 eventos paralelos, muitos deles pautados na inovação tecnológica e em práticas inteligentes para melhorar a gestão dos recursos hídricos e do saneamento.
Ao mesmo tempo, o evento proporcionou a realização de reuniões bilaterais entre as entidades presentes, como no caso do presidente da ABAS, José Paulo Netto e dos diretores da ANA – Agência Nacional de Águas, Vitor Saback e Felipe Mello Sampaio. Juntos, eles avaliaram as metas para o Brasil em 2023 e os avanços a partir das alterações do Novo Marco Regulatório do Saneamento ( lei 14.026/2021)
Entre os presentes, o “pop star” da hidrogeologia mundial, geólogo John Cherry, vencedor do prêmio Águas de Estocolmo 2020, considerado o “Prêmio Nobel” do setor.
Cherry lembrou que as pessoas não se importam com águas subterrâneas porque não conseguem vê-las. “Precisamos explicar desde a criança até os peritos que as águas subterrâneas dão sustentação aos ecossistemas. Hoje, as crianças aprendem sobre rios, mares e lagos, mas não têm a menor ideia do que os recursos hídricos subterrâneos representam para a vida delas e para a sobrevivência do planeta”, afirmou.
Cerimônia da mistura de águas
De acordo com o presidente da ABAS, outro destaque do UN Ground Water Summit 2022 foi a Cerimônia de Mistura de Águas capitaneada pela IAH – International Association of Hydreologist, onde delegados de todo o mundo trouxeram águas subterrâneas de seus países. Essas foram misturadas e ainda adicionada água das plantas aquáticas dos jardins da UNESCO Paris, demonstrando a unidade das águas subterrâneas e sua integração com as águas superficiais, inspirada no que aconteceu durante o Congresso Mundial de Águas Subterrâneas 2020/2021 realizado pelas ABAS, onde foram trocadas águas entre o Brasil e a Bélgica.
Na ocasião, a ABAS, IAH e a ALUSUD – Associação Latinoamericana de Hidrologia para el Desarrollo, iniciaram a tradição de efetuar a troca de amostras de água subterrâneas entre o país sede realizador do congresso mundial e o país que sediará o próximo evento, numa espécie de ”rito de passagem” da tocha olímpica. Para demonstrar a unidade entre as águas do planeta.
“Ficamos muito felizes ao constatar a aceitação do ato criado no congresso mundial realizado no Brasil”, diz José Paulo Netto. “A partir de algo simbólico conseguimos demonstrar uma visão global do uso racional e da preservação dos recursos hídricos subterrâneos. Essa atividade se expandiu, ganhou ainda mais força em Paris e, com certeza, vai ser ainda mais representativa na Conferência Mundial de Água 2023, em que, com certeza, a ABAS estará presente.”
Durante a Cúpula de Paris, além de misturar as águas subterrâneas o planeta, foram enviados frascos de 10 ml da “água do mundo” aos participantes para que eles levassem para seus países de origem. A mistura deve ser usada em outros atos “simbólicos” para a regar plantas e com isso mostrar a importância das águas subterrâneas para a agricultura, para recarregar artificialmente um aquífero, ser colocada em córrego ou lago superficial demostrando que parte das águas superficiais vem dos aquíferos.
Outro exemplo trabalho de integração que teve início no Congresso de 2021 no Brasil e muito valorizado e divulgado na Cúpula de Paris foi a “Declaração São Paulo Bruxelas.” A declaração é fruto de uma pesquisa realizada pelo Comitê Executivo da ABAS, IAH e da na qual participaram centenas de hidrogeólogos de todo o mundo. O trabalho alerta, informa e orienta sobre a respeito da importância desse recurso para a sobrevivência do planeta e desde então vem sendo divulgado junto aos governos, entidades internacionais e em diversas campanhas internacionais, e já conta com mais de 1.200 signatários.
A Declaração BRABEL pode ser assinada em: https://brabeldeclaration.getresponsepages.com/
Informações
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