Foco no diagnóstico apoia sustentabilidade de cooperativas
Ampliar perspectivas, trocar ideias, explorar soluções e impulsionar o diagnóstico no mercado de cooperativas médicas foram alguns dos objetivos do II Fórum de Acesso bioMérieux: Impacto dos Diagnósticos nas Cooperativas Médicas, realizado em São Paulo, no dia 22 de novembro. O encontro reuniu 48 profissionais de saúde e de outras especialidades, e contou com palestras de representantes da Unimed.
Na abertura, o diretor-geral da bioMérieux Brasil, Fernando Oliveira, destacou a missão da companhia de ter participação ativa na saúde pública em cada país em que estiver presente, honrando o legado da família Mérieux, e dialogando com as fontes pagadoras. “Atuamos em um sistema público e privado complexo, em que as cooperativas têm papel relevante, pois o paciente de um lado precisa ser atendido, e as operadoras de saúde querem atingir seus objetivos financeiros. Não queremos apenas fornecer testes de diagnóstico, mas inovação que beneficie ambos os lados, prover dados para a melhor decisão médica e desfecho”, afirmou.
Na sequência, o Dr. Newton Nunes Filho, presidente da Unimed Teresina, falou sobre “O Papel da Inovação nas Cooperativas Médicas”, reforçando que a cooperativa atende mais de 20 milhões de pacientes no país, com 118 mil médicos cooperados. “Vivemos um momento de transformação, com muitas tecnologias emergentes, como telemedicina, inteligência artificial (IA), big data, imunobiológicos/imunoterápicos, terapias celulares/gênicas e novos dispositivos”, afirmou o médico. “Isso cria desafios culturais, financeiros e regulatórios, pois a adoção depende muito da viabilidade dessas ferramentas”, avaliou.
Logo depois, Gabriel Ogata, gerente nacional de Acesso da bioMérieux, falou sobre “Medicina de Precisão e Sustentabilidade Financeira: O Papel dos Diagnósticos Avançados”. Ele abordou o cenário de custos elevados, pagamento por volume, envelhecimento da população, cuidado desordenado e falta de mensuração de desfechos, que prejudicam a sustentabilidade financeira do segmento de saúde suplementar no Brasil.
Comentou o aprendizado com o processo da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC), que acaba de recomendar a incorporação do Teste PCR multiplex direto rápido para diagnóstico de meningite e encefalite, tendo a entidade responsável pela solicitação sido a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), o que significou importante chancela de credibilidade.
“O diagnóstico sindrômico permite, com diferentes painéis, detectar 120 patógenos em até 1 hora. Com mais de 239 mil casos confirmados de meningite e encefalite no Brasil desde 2010, se essa tecnologia já estivesse disponível, poderiam ter sido economizados em torno de R$ 500 milhões, em hospitalização e medicação”, calculou o especialista.
“Integração do Laboratório no Modelo Assistencial: Otimizando a Jornada do Paciente” foi o tema da palestra do Dr. Fábio Brazão, da Unimed Belém. Ele descreveu as fases dos processos laboratoriais e a relação qualidade vs quantidade, pois 70% das decisões médicas se baseiam em exames laboratoriais, o que exige protocolos assistenciais bem definidos.
“Os laboratórios não são os vilões dos custos, somam menos de 5% do total. É preciso investir mais na educação médica, para que o profissional saiba que exames solicitar”, disse Brazão. “O desperdício estimado chega a R$ 30 bilhões. É urgente para combatê-lo pedir o exame certo para o paciente certo, no momento certo”.
O Dr. Rafael Gama, da Unimed Blumenau, abordou “ATS nas Cooperativas Médicas: Equilibrando Inovação e Sustentabilidade”. Ele explicou o papel da Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS), processo que analisa as implicações do uso de tecnologias de saúde, a fim de fornecer informações para a tomada de decisões. “Nossa função é entender a tecnologia, a efetividade, os resultados reportados, a experiência do cuidado, o uso do sistema de saúde e o custeio financeiro. Só pode prescrever algo fora do rol mediante a comprovação da eficácia, alta evidência e plano terapêutico”, afirmou.
“Dinheiro existe, o problema é o desperdício, em torno de 30%”, ratificou Joatam Leite, da Unimed Federação do Estado do Paraná, em sua apresentação “Alinhando Prestadores e Operadoras em Busca de Valor em Saúde”. Ele destacou quatro propósitos a serem seguidos na operação: melhor gestão populacional, redução do custo do cuidado, melhor experiência do paciente e melhor satisfação do prestador.
“O contexto atual, de remuneração por doença, gera o desperdício. É preciso mudar o incentivo, medir os indicadores e sobretudo perguntar ao paciente sobre o desfecho. A conscientização começa pelo médico, orientando-o a pedir o exame correto para fechar o diagnóstico e indicar o tratamento adequado”, disse o gestor.
Com mais de 500 mil exames realizados por mês na Unimed Sorocada, dos quais 80% no laboratório de análises clínicas, o Dr. Fernando Ruiz falou sobre “Integração de Diagnósticos Moleculares nos Protocolos Clínicos” e apresentou dados que comprovam o papel do diagnóstico para a tomada de decisão rápida.
“A interpretação certa leva à indicação do antimicrobiano certo, no tempo adequado. O uso dos painéis de diagnóstico rápido permitiu, em muitos casos, descalonar e até interromper o uso de antibióticos, com altas em menor tempo”, explicou.
“Em saúde, o que é caro ou barato? Porque, no fim, todos pagam pela fraude e pelo desperdício”, alertou a Dra. Maria Teresa Lodi, médica especializada em Consultoria em Saúde Suplementar, com foco em Auditoria e Compliance, em sua palestra “Auditoria e Conformidade em Processos Diagnósticos”.
A pergunta ilustrou o problema do modelo de pagamento no Brasil, chamado fee for service (FFS), que incentiva consumir o máximo de insumos possível, para fazer a conta crescer. “Tem quem usa a carteirinha de outra pessoa, medicação certa em dosagem errada, materiais errados, falhas no atendimento, laboratórios com goteira, exames realizados mas nunca retirados, excesso ou subutilização de equipamentos”, enumera.
“Novos exames e tecnologias garantem menos desperdício de insumos, tempo e recursos, favorecendo o paciente. O futuro da saúde exige a mudança de mindset. O momento é disruptivo, com teleconsulta, inteligência artificial, novas terapias e inovação em diagnóstico”, completou.