Empreendedorismo jovem ganha força no país
É comum se ouvir no meio dos negócios que o brasileiro tem o empreendedorismo na veia. A novidade é que a cultura empreendedora agora vem com “sangue novo”, através dos mais jovens. Levantamento do Monitor Global do Empreendedorismo (GEM) registrou que 8 milhões dos 23,9 milhões de jovens brasileiros, com faixa etária entre 18 e 24, já possuem o seu próprio negócio. O número faz parte de um contexto maior: de acordo com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o país teve um crescimento de 75% de pessoas querendo empreender. O sonho de abrir o próprio negócio só perde para o desejo de viajar.
São muitas as motivações para o jovem correr atrás do sonho de ser seu próprio patrão. O pontapé pode vir da vontade de impactar positivamente a sociedade com alguma ideia ainda não conhecida, da inspiração em modelos de negócios digitais ou simplesmente da dificuldade de conseguir uma fonte de renda. Entrar no mercado de trabalho costuma ser mais difícil para quem está procurando sua primeira oportunidade. A taxa de desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos ficou em 29,8% ao fim de 2020, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – cerca de três vezes a média nacional geral.
De acordo com o estudo Empreendedorismo Jovem no Brasil, feito pelo Sebrae com base em dados do segundo trimestre de 2021 da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), o perfil do jovem empreendedor de até 24 anos é majoritariamente composto por homens (apenas 35% são mulheres), 59% são autodeclarados negros, 49% têm nível médio, a maioria se localiza no Sudeste (38%), sendo seguido pelo Nordeste (28%), Sul (14%), Centro-Oeste (12%) e Norte (8%).
Quanto aos negócios, o registro identificou baixa formalização (apenas 16% dos jovens têm CNPJ, contra 35% da taxa geral), baixo faturamento (66% têm renda de até um salário-mínimo) e pouca contribuição para a Previdência Social: apenas 17%. Os empreendedores jovens também são os que menos empregam: apenas 5% têm um funcionário contratado. Quanto aos setores, 46% dos empreendimentos são da área de serviços, 22% do comércio, 14% da construção civil, 12% agropecuária e 6% se declaram da área industrial.
Para melhorar os índices sobre o empreendedorismo jovem apontados pela Pnad Contínua, o estudo do Sebrae recomenda a educação empreendedora. A iniciativa para essa formação deve ser tomada como uma parceria entre sociedade, governo e entidades ligadas à educação.
Para Hugo Giallanza, responsável pelos Negócios Digitais e Startups no projeto Capacita MPE, iniciativa realizada pela Brasil Startups e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal com objetivo de capacitar jovens que desejam empreender, a maior barreira para o empreendedorismo é encampar o que ele chama de mentalidade empreendedora: “É equivalente a uma convicção – ou, para alguns, uma indignação que alimenta e habilita o ser humano a realizar algo único”, reflete.
Entretanto, Giallanza ressalta que as estruturas familiares e o contexto de cada indivíduo, normalmente compostas de uma mentalidade limitada, é responsável por asfixiar um mundo de oportunidades que poderiam impulsionar tantos jovens a empreender.
Para o empresário participante da plataforma gratuita Capacita MPE, um exemplo que possa servir como fator inspiracional é ter um mentor, contar com alguém que possa reprogramar crenças e ajudá-los a tomar decisões assertivas e fazer ajustes neste trajeto. “Sabemos que este deveria ser o papel dos pais e que estes deveriam mentorar seus filhos e impulsioná-los a um novo nível, mas o contexto acelerado que vivemos inviabiliza as condições para que isso possa ocorrer em plena naturalidade”, comenta.
Por fim, em uma visão de perspectiva para o futuro, Giallanza comenta que “se pensarmos um contexto em que a automação irá substituir muito profissionais, a criatividade e habilidades emocionais serão os diferenciais destes jovens no futuro, fomentando estes aspectos”.