Indicadores industriais melhoram em maio, mas especialistas pedem cautela antes de cravar recuperação

Os indicadores de faturamento real, horas trabalhadas na produção, emprego, expectativas de demanda e de compras de matérias-primas da indústria registraram alta em maio. É o que aponta a mais recente pesquisa de Indicadores Industriais e a Sondagem Industrial, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no fim de junho. 

Em maio, o índice que mede o faturamento real da indústria de transformação cresceu 1,8% em relação ao resultado de abril. Trata-se do maior patamar alcançado pelo indicador em 2022. 

O emprego na indústria também cresceu em maio. O índice de evolução no número de trabalhadores do setor subiu 0,1% na comparação com o mês anterior. Apesar da leve alta, o resultado interrompe uma sequência de três meses consecutivos de queda. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a indústria gerou quase 47 mil postos de trabalho em maio. 

Já as horas trabalhadas na produção cresceram 1,6% em maio. Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI, diz que a alta em quase todos os indicadores foi importante diante do desempenho negativo que se observou nos últimos meses. 

“Abril foi um mês de uma atividade mais fraca, interrompendo uma sequência relativamente positiva. Os meses de fevereiro e março mostraram uma indústria andando relativamente favorável. Ainda muito aquém da pré-pandemia, mas estava começando a reverter um longo  período de queda de 2021”, analisa. 

Já a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) foi de 80,9%, 0,1% a menos que em abril. Segundo a CNI, a série retorna ao patamar de janeiro de 2022, o que aponta para um cenário de estabilidade nos cinco primeiros meses do ano. 

Otimismo

Os empresários industriais também estavam otimistas em relação ao desempenho da indústria no mês de junho. O índice de expectativa de demanda foi de 59,1 pontos, maior valor desde setembro de 2021. Na comparação com o mês anterior, houve alta de 1,8 ponto. 

O índice que mede as expectativas de compras de matérias-primas saltou de 55,6 pontos para 57 pontos. Houve leve melhora nos indicadores de expectativa de quantidade exportada e número de empregados, segundo a CNI. 

Segundo Marcelo Azevedo, a melhora das expectativas de compras de matérias-primas não significa que o desarranjo das cadeias de produção causado pela pandemia da Covid-19 e agravado pela guerra no leste europeu está resolvido. 

“Infelizmente isso não mostra essa normalização [das cadeias de produção]. Esse problema continua muito forte, tanto em matérias de custo, quanto em disponibilidade. A expectativa que a gente vê nessa última sondagem mostra uma necessidade de busca por esses insumos dada uma percepção de melhora na demanda respondendo ao mercado de trabalho, que vem melhorando”, explica. 

Marco Antonio Rocha, professor do Instituto de Economia e pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também diz que é cedo para afirmar, com base na melhora dos indicadores, que a escassez e o alto custo da energia e das matérias-primas necessárias para a indústria ficaram no passado. 

“É um tanto precipitado dizer que já há uma recuperação. A gente precisa de mais alguns meses para ver se essa recuperação se sustenta e se esse otimismo da classe empresarial realmente se converte em realidade. Por enquanto, é um movimento muito parecido com o que a gente viu. Alguns meses de queda, alguma recuperação que vem em seguida, oscila com novos meses de queda, nesse cenário em que a indústria vai andando de lado já faz alguns anos”, avalia. 

O especialista diz que o cenário internacional ainda é turbulento, o que pressiona os custos industriais. Ele acredita que o problema deve se prolongar, ao menos, até o fim deste ano. “Esse cenário deve perdurar porque mesmo que o conflito cesse,  as sanções econômicas devem perdurar e a normalização daquele território e do próprio embarque dos insumos, por exemplo, deve demorar um tempo para se normalizar também, como a questão da energia”, projeta. 

A Sondagem Industrial também aponta que a intenção de investimento dos empresários aumentou 0,3 ponto, alcançando 56,4 pontos. De acordo com a CNI, o resultado mostra intenção de investir relativamente elevada, já que o índice permanece acima da média histórica de 51,1 pontos. 

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