PF investiga movimentação de R$ 20 bi em criptomoedas para lavar dinheiro do tráfico

A ‘Operação Rekt’ cumpriu quatro mandados de busca e apreensão na capital paulista e na cidade de Limeira. O esquema usava criptoativos para lavar dinheiro do tráfico de drogas.

A Polícia Federal deflagrou na última quinta-feira (29) uma operação contra a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas em São Paulo e pediu o bloqueio de R$ 20 bilhões em movimentações suspeitas de terem sido realizadas com dinheiro ilícito.

A ‘Operação Rekt’ também cumpriu quatro mandados de busca e apreensão na capital paulista e na cidade de Limeira, no interior de São Paulo. Os mandados foram cumpridos em endereços comerciais e de uma pessoa física. As sedes das principais empresas investigadas ficavam em quartos de hotéis, segundo a polícia.

As investigações tiveram início em outubro de 2018 pela Superintendência Regional do Rio Grande do Sul e são desdobramento da “Operação Planum”, quando verificou-se que havia um grupo especializado na lavagem de dinheiro situado na cidade de São Paulo.

“Naquela oportunidade, a Polícia Federal identificou duas células. Uma célula voltada para o tráfico internacional de drogas e uma célula financeira que fazia com que os valores aferidos pela organização criminosa fossem transacionados através de empresas de fachada com sócios inexistentes, que usavam documentação falsa”, afirmou o delegado Fabrício Gale, chefe da Delegacia de Repressão à Drogas.

Foi solicitado o bloqueio bancário e fiscal de 36 investigados. Desses, 32 eram pessoas jurídicas e quatro pessoas físicas. Segundo a PF, em apenas uma das contas bancárias foi efetuado o bloqueio de R$ 110 milhões de uma corretora de criptoativos. A corretora não é investigada.

“Nós tivemos o bloqueio em uma conta de uma empresa que opera bitcoins. O simples fato de operar no mercado não é algo ilícito, mas o problema é que essa empresa recebeu vultuosos recursos, mais de R$ 100 milhões identificados nesta operação e esses recursos provavelmente tem origem ilícita”, disse Gale. “Uma das razões de ter pedido o bloqueio é que essas empresas não estão sujeitas ao controle do Banco Central e fica mais difícil identificar as movimentações suspeitas”. As criptomoedas podem ser sacadas em espécie em qualquer lugar do mundo.

De acordo com os federais, a investigação apurou um grande esquema de lavagem de dinheiro envolvendo empresas de fachada, cadastradas em nome de ‘laranjas’. As contas bancárias dessas pessoas jurídicas foram usadas por traficantes de drogas, presos na chamada ‘Operação Planum’.

Analisando as informações obtidas nas buscas em 2018 e em relatórios de inteligência financeira, foram descobertas transações atípicas bilionárias cujo destino principal era a compra de criptoativos. As diligências desta última quinta (29) tem a finalidade de bloquear o patrimônio da organização criminosa em favor da União.

“O volume de dinheiro chegava em espécie, depósitos em valores fracionados para que não fossem identificadas essas movimentações, mas através dos relatórios encaminhados pelo Coaf conseguimos fazer os cruzamentos e identificar todas essas transferências”, disse Gale.

Segundo ele, as empresas foram criadas apenas para a passagem do dinheiro. Das 32 empresas identificadas, 29 não existiam fisicamente.

“O nome da operação ‘Rekt’ refere-se a uma gíria usada no mercado de criptoativos, que significa a perda severa de patrimônio decorrente de uma transação equivocada ou investimento mal feito”, informou um comunicado da PF nesta quinta (29).

Segundo a PF, os investigados poderão ser indiciados pela prática dos crimes de organização criminosa, com pena 3 a 8 anos e multa, e de lavagem de dinheiro, com pena prevista de 3 a 10 anos e multa. Os mandados judiciais foram expedidos pela 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

A Polícia Federal está investigando a movimentação de R$ 20 bilhões em criptomoedas para lavar dinheiro do tráfico de drogas.

O esquema, que envolvia 32 empresas de fachada, funcionava desde 2018. A sede de algumas delas ficava em quartos de hotéis. A polícia identificou quatro suspeitos e cumpriu mandados de busca e apreensão.

Quarto de hotel no Centro de SP, que tinha um escritório instalado, onde foram feitas buscas em operação contra lavagem de dinheiro — Foto: Divulgação

A Justiça Federal determinou o bloqueio do dinheiro e a quebra do sigilo das empresas.

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