Passaporte europeu da Covid-19 deve excluir vacinas não aprovadas pela UE
Futuro do turismo dependerá do reconhecimento dos imunizantes de China e Rússia por destinos mais populares; CoronaVac está entre as não autorizadas pela UE
Com a retomada das viagens internacionais no horizonte, alguns países já começam a organizar internamente sistemas de passaportes da vacina que permitirão o livre trânsito entre algumas regiões. Com o
avanço da ideia, porém, fica cada vez mais claro que a origem e o fabricante dos imunizantes pode ser determinante para permitir a entrada em alguns destinos.
A União Europeia já está planejando permitir que americanos vacinados com imunizantes aprovados por sua agência antidrogas entrem no continente durante o verão, sugeriu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em uma entrevista ao jornal The New York Times no domingo.
Com isso, pessoas vacinadas com imunizantes das fabricantes chinesas Sinovac Biotech, que produz a CoronaVac, e Sinopharm provavelmente serão impedidas de entrar na UE, que não aprovou suas vacinas, o que terá sérias consequências para a atividade empresarial global e o renascimento do turismo internacional.
A UE planeja introduzir o passaporte de vacina a partir de junho, o que permitirá a viagem de pessoas inoculadas ou recentemente recuperadas da Covid-19. De acordo com o rascunho do regulamento – sujeito às negociações em andamento entre os governos da UE e o Parlamento Europeu – decisão final sobre quais vacinas serão aceitas depende de cada um dos Estados-membros.
Impacto no turismo global
Com o avanço das campanhas de vacinação ao redor do mundo, aprovações de reguladores em diversos países e regiões preparam as bases para uma bifurcação global, onde o imunizante obtido pode determinar em quais países as pessoas podem entrar e trabalhar.
Para cidadãos chineses que viajam ao exterior regularmente e ocidentais que desejam buscar oportunidades de negócios na
segunda maior economia do mundo, surge o dilema sobre qual opção escolher. Até agora, a China reconhece apenas as vacinas chinesas, e seus imunizantes ainda não foram aprovados nos Estados Unidos ou na Europa Ocidental.
Para milhões de pessoas ao redor do mundo que não podem escolher quais vacinas tomar, o risco de mais países se tornarem seletivos sobre quais imunizantes são reconhecidos, especialmente devido às diferentes taxas de eficácia, cria a possibilidade de que elas enfrentem limitações para viajar, mesmo que totalmente imunizadas.
A China não é o único país que restringe o acesso a pessoas imunizadas com determinadas vacinas. A Islândia atualmente exclui imunizantes da China e da Rússia da lista de vacinas aprovadas para entrada.
A questão do reconhecimento de vacinas é fundamental para países dependentes do turismo, já que o setor global de viagens, que movimenta 9 trilhões de dólares, está efetivamente paralisado desde o início da pandemia.
A abordagem da China para esta questão pode impactar sua tomada de decisão, uma vez que turistas chineses estavam entre os maiores grupos de visitantes estrangeiros em pontos turísticos do Sudeste Asiático, Austrália, Nova Zelândia e capitais mais distantes, como Paris, antes da pandemia.
A criação de um passaporte da vacina tem potencial de reativar setores devastados da economia, como o varejo de rua, a indústria do entretenimento e, acima de tudo, o turismo mundial, penalizado pela paralisação imposta pela pandemia com um recuo de 74% no ano passado.
Ao mesmo tempo, o passaporte traz embutida uma série de questões éticas, que vão sendo postas à mesa. Como a imunização está caminhando de forma desigual pelas nações, o passe dos vacinados criaria, supostamente, castas de cidadãos mais e menos privilegiados — abarcando aí os habitantes de países pobres e os grupos mais vulneráveis, mesmo naqueles com ampla vacinação.