Covid-19: País enfrentará novo desafio nas próximas semanas com chegada do inverno
É preciso estar atento e manter os protocolos de segurança com afinco. Eliseu Alves Waldman, epidemiologista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, pondera que o país pode ter atingido o pico da segunda onda da pandemia de Covid-19, mas que enfrentará um novo desafio nas próximas semanas.
— Entraremos no inverno no fim do mês que vem, quando ocorreu o pico da primeira onda. Então, pode haver um novo recrudescimento do Sars-CoV-2 nesta época, como ocorre com todos os vírus respiratórios — explica Waldman. — Como não tomamos medidas mais radicais para diminuir a circulação do vírus, pode ser que ela seja mantida em um patamar muito alto.
Além das mais de 400 mil mortes, Waldman atenta que o país conta com aproximadamente 14,5 milhões de infecções confirmadas. Muitos casos, segundo o epidemiologista, são de pessoas que foram internadas. Embora tenham conseguido sobreviver à Covid-19, podem ter sido vitimadas com outras mazelas.
— O vírus deixa sequelas, principalmente respiratórias, cujas consequências a médio e longo prazos ainda são desconhecidas, mas que demandarão um atendimento especial. Hoje, a prioridade ainda é evitar o colapso do sistema de saúde — atenta o epidemiologista. — A pandemia também está provocando a diminuição da cobertura de pacientes com outras doenças infecciosas ou doenças crônicas não transmissíveis, que deixaram de ser atendidos. É o caso da tuberculose, que tem uma incidência muito alta no Brasil, da hipertensão e do diabetes.
Um boletim divulgado anteontem pela Fiocruz demonstra sinais tímidos de queda no número de casos (-1,5% ao dia) e óbitos (-1,8% diários) por Covid-19 no país.
— Isso significaria que chegamos a um platô, da mesma forma como na primeira onda, em meados de 2020. A diferença é que, desta vez, estacionamos em um índice muito mais elevado. A lição que deveríamos ter aprendido é que este momento deve ser o de reorganização de serviços, e não de flexibilização total — diz o sanitarista Christovam Barcellos, coordenador do MonitoraCovid-19 da Fiocruz.