Análise: primeiro na estratégia, depois na superação, vitória do Fluminense tem a cara da Libertadores
Triunfo tricolor sobre Santa Fe fora de casa tem viagem no dia do jogo, marca histórica, expulsão, sufoco e defesa milagrosa nos acréscimos
Um jogo com todos os “ingredientes de Libertadores”, como bem definiu o técnico Roger Machado na entrevista coletiva após a vitória do Fluminense por 2 a 1 sobre o Santa Fe, no Estádio Centenário de Armenia, na Colômbia. Marca histórica, sufoco, expulsão, defesa milagrosa… Sem contar o desgaste da viagem, acentuado pela mudança em cima da hora do local da partida, válida pela 2ª rodada da Libertadores.
Para voltar com os três pontos na bagagem, o Tricolor começou a construir a vitória na base da estratégia e, após ficar com um a menos no segundo tempo com a expulsão de Egídio, a assegurou na base da superação.
Roger acertou ao repetir o time que levou a campo no empate (com boa atuação) com o River Plate, na estreia, no Maracanã. O desafio, desta vez, era diferente. A equipe teve a preparação para a partida contra o Santa Fe atrapalhada pela mudança de local de Bogotá para Armenia em cima da hora em razão dos altos índices de Covid-19 na capital. Se por um lado, não mais jogaria na altitude (Armenia 1480m x Bogotá 2600m), teria que superar o desgaste de um voo no dia do jogo
E para poder administrar o desgaste, nada melhor que fazer um gol logo no começo. Algo inédito para um time que só havia feito um gol no 1º tempo na temporada. Mas aconteceu. Bela jogada de Kayky, lindo passe de letra de Nenê e finalização precisa de Fred. Aos 4 minutos de jogo, o Flu estava na frente.
Com a vantagem no placar, o Tricolor pôde se desgastar um pouco menos. Se fechou em duas linhas defensivas próximas e passou a pressionar a marcação nas zonas, buscando uma roubada no meio para apostar na juventude de Kayky e Luiz Henrique em contra-ataques. E foi fazendo o tempo passar. A estratégia ficou explícita na posse de bola: 75% para o time colombiano contra 25% para o Flu.
O time poupou energia, mas não sem ser ameaçado. Calegari não estava na melhor de suas noites e teve muita dificuldade com as investidas de Arias e Mosquera. Foi pelo seu lado que o Santa Fe encontrou espaços e levou perigo em pelo menos três ocasiões, quase chegando ao empate. Roger, inclusive, chegou a inverter os pontas e colocar Luiz Henrique para ajudar o lateral na marcação.
– O lado esquerdo do nosso adversário era muito forte. A gente já sabia desde o início, antes da partida, com dois jogadores muito agressivos pelo lado. No primeiro tempo, a gente inverteu o lado dos nossos pontas para buscar maior equilíbrio, mas o adversário em algum momento vai levar vantagem, como levou – analisou Roger.
O Flu precisava de um outro gol para ter mais tranquilidade. E ele veio antes do relógio marcar 1 minuto no 2º tempo. Novamente com um gigante e decisivo Fred. Desta vez, com um cruzamento primoroso de Egídio. O gol do Santa Fe, minutos depois, em um apagão da defesa, porém, é que não estava no script, deixando o jogo novamente em aberto.
Dos 15 aos 22 minutos, Roger reabasteceu as energias da equipe ao colocar Cazares, Gabriel Teixeira, Caio Paulista e Bobadilla nos lugares, respectivamente, de Nenê, Kayky, Luiz Henrique e Fred. Decisão acertada. Os veteranos estavam extenuados pela entrega na primeira etapa, enquanto os jovens atacantes se desdobraram com as atribuições defensivas.
O Santa Fe incomodava, mas, até então, a impressão era que, se o Flu continuasse bem postado na defesa, conseguiria assegurar a vitória sem tantos sustos. Engano. Aos 24, Egídio cometeu uma falta boba na lateral, levou o segundo amarelo e foi expulso. O Tricolor jogaria os 20 minutos finais com um a menos.
Por ter trocado todas as peças do ataque, Roger precisou sacrificar um jogador que havia entrado para colocar Danilo Barcelos para recompor a lateral-esquerda. O escolhido foi Gabriel Teixeira. Uma opção contestável, já que o jovem meia era quem tinha mais velocidade para ser a válvula de escape da equipe. O treinador explicou sua escolha:
– Primeiro, a gente não perder, quando retomasse essa bola na figura do Cazares, alguém para reter com um pouco da sua habilidade a bola. E segundo, também com a permanência do Caio em campo. É um jogador de velocidade, mas também tem boa estatura e força para os embates físicos do final do jogo, com bola aérea, com escanteio. Essa foi a intenção: dar um pouco de controle quando a gente retomasse essa bola, se fosse o caso, mas também tendo a figura do Caio os embates físicos, a bola aérea e sua velocidade.
Na segunda metade da etapa final, a estratégia deu lugar à superação. O Santa Fe partiu para cima e pressionou até o final. Encarnado o apelido de “Time de Guerreiros”, todos os jogadores se entregaram ao máximo para segurar a vitória. Destaque para Marcos Felipe que se redimiu do pênalti cometido na estreia com duas defesas dificílimas, uma delas um milagre nos acréscimos. E menção honrosa para Bobadilla, um jogador com a cara da competição: usou o corpo para segurar bolas no ataque, cavou faltas, irritou os adversários: o famosos “chato”.
O Fluminense, mais uma vez, mostrou que está a fim de Libertadores, que é um adversário “encardido” de enfrentar. Com o resultado, o Tricolor divide a liderança do Grupo D com o River Plate, que venceu o Junior Barranquilla pelo mesmo placar. Os dois têm 4 pontos, 3 gols próprios e 1 gol de saldo.
O próximo compromisso na competição é quinta-feira que vem, contra o Junior Barranquilla novamente na Colômbia. Antes, o Flu joga a partida de ida das semifinais do Campeonato Carioca contra a Portuguesa. Muito provavelmente com uma equipe alternativa, já que o time principal ainda encara um desgastante voo de volta para o Brasil nesta quinta.