Reação dos pregões à decisão de Fachin reafirma rejeição do mercado a Lula
Às 15h30 desta segunda-feira (8), o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal) anulou as sentenças contra o ex-presidente Lula em Curitiba, tornando-o, pelo menos temporariamente, livre para disputar eleições. Neste momento, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, passava dos 114 mil pontos. Em menos de meia hora, recuou 2,6%, para 111 mil pontos. No fechamento, a perda do dia chegava quase a 4%, com o Ibovespa a 110 mil pontos.
No mercado cambial, não foi diferente. Na primeira meia depois do anúncio da decisão de Fachin, a cotação do dólar avançou 1%, de R$ 5,72 para R$ 5,78. Num dia de oscilações, a moeda americana avançou 1,66% às 17hs, cotada a R$ 5,77, depois de subir até R$ 5,78, entre meio e fim da tarde.
Não houve alteração no quadro da economia, seja no plano interno, seja no internacional, do meio até o fim da tarde, que justificasse a derrubada do mercado acionário e a escalada do mercado cambial. Era simplesmente o “mercado” reagindo à possibilidade de Lula se apresentar como candidato às eleições presidenciais de 2022.
É uma história que se repete, no caso atual, talvez de forma afoita. Para começar, não é certo que Lula permaneça juridicamente livre para se candidatar em 2022. A PGR (Procuradoria Geral da República), por exemplo, pretende recorrer da decisão de Fachin. Também em 2002, a Bolsa derreteu e a cotação do dólar foi às nuvens quando ficou mais claro que Lula poderia vencer o pleito então.
Pode-se alegar que, se nada, com base nos fundamentos econômicos, justificava as oscilações acentuadas ocorridas, as expectativas, elemento também chave na formação das cotações, haviam sofrido um forte impacto. Isso é verdade, mas também é verdade que muita água ainda vai rolar até que a cédula eleitoral esteja formada.
Desdobramentos da decisão de Fachin podem beneficiar o presidente Jair Bolsonaro, presumível antagonista de Lula numa eventual disputa eleitoral. O apoio do mercado financeiro ao governo vinha apresentando fissuras cada vez mais evidentes, com o desenrolar da desastrosa administração da pandemia da covid-19 por Bolsonaro. Agora, o espectro de uma volta de Lula pode reatar laços que estavam esgarçando. A derrubada dos ativos nesta segunda-feira, e as previsíveis instabilidades nos pregões, para os próximos dias, podem ser interpretadas como um ensaio desse movimento.