Entre partituras e toadas, Caprichoso e Garantido apostam na batida perfeita

Musicalidade do Festival Folclórico de Parintins permite harmonia entre músicos do universo clássico e percussionistas

Acordes sinfônicos que se encontram com o ritmo do boi-bumbá. A musicalidade sem barreiras do Festival Folclórico de Parintins é a identidade do espetáculo, que teve sua 55ª edição de sexta-feira a domingo (24 a 26/06), no Bumbódromo da Ilha Tupinambarana. A cada temporada, o público se depara com a habitual mistura de ritmos da Batucada do Garantido e da Marujada do Caprichoso.

Diferencial encontrado pelo violista Gabriel Lima da banda oficial do boi negro, ao misturar os arranjos de cordas à percussão dos ritmistas.

“A inclusão das cordas nas toadas não foi algo natural. Assim como a guitarra e o charango, que já foram incorporados à história do boi-bumbá, as cordas vêm desde 2018 tentando se consolidar. É um trabalho incipiente, mas que já chama atenção”, disse Gabriel, que é professor na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e integrante da Amazonas Filarmônica e da Orquestra de Câmara do Amazonas (OCA).

O diretor musical do Garantido, Leonardo Pantoja, se preocupa com a construção do espetáculo nos meses que antecedem o festival e assume a condução do musical na arena. Para ele, a qualidade musical das toadas, conhecida hoje, é um trabalho que se aprimora a cada ano.

“A inserção dos instrumentos de sopro (metais) surgiu a partir da ideia de Sidney Rezende e Fred Góes, na década de 1990, pela necessidade de elevar o nível musical das obras”, lembra o diretor. “O ritmo que começou totalmente percussivo, hoje abrange uma musicalidade expandida com instrumentos de sopros, cordas e sintéticos”.

Partituras

De um lado, músicos profissionais com instrumentos de acordes sinfônicos e, do outro, os percussionistas. No Bumbódromo, os dois lados se harmonizam para encontrar o ritmo que rege os bois.

Gabriel Lima, que também escreve partituras para violino, viola e violoncelo, revela que traduzir as cifras para as toadas representa um desafio, pelo ineditismo. “Os timbres precisam se encaixar de maneira harmoniosa e fluida para que as cordas não atrapalhem o ritmo do boi e nem a percussão sobrepuje totalmente as cordas”, explica. 

Ainda de acordo com Gabriel, as bandas oficiais do bois-bumbás são compostas de, aproximadamente, 16 músicos, sendo a grande parte dos corpos artísticos do Amazonas, reforçando a necessidade das partituras rítmicas.

Para Leonardo Pantoja, sincronizar a musicalidade na arena vai além do conhecimento musical de cada integrante e esbarra na função do peara, que é a de comandar a Batucada.

“Os grupos rítmicos do festival de Parintins são formados por pessoas leigas no conhecimento teórico da música. Então cabe aos pearas o repasse didático e facilitado das partituras rítmicas”, disse o diretor musical do boi vermelho e branco.

Promovido pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, o Festival Folclórico de Parintins tem a grandiosidade como marca registrada, e para isso as surpresas são elementos indispensáveis.

“Quem sabe a gente toque uma música erudita no meio de uma manifestação popular arraigada no povo amazonense”, relatou Gabriel, do lado do Caprichoso, antes de uma das apresentações ocorridas no final de semana.

“Nesse ano apostamos nas variações rítmicas dentro da Batucada, com levadas novas como afoxé, baião, maracatu. Trazendo para dentro do contexto rítmico a origem do nosso ritmo”, relatou Leonardo, sobre as apresentações do Garantido.

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