Cortes no Orçamento devem impactar ações de universidades públicas contra a pandemia

As instituições devem amargar uma redução de 20% nos recursos este ano. Reitores ouvidos pela CBN temem prejuízos ao atendimento de pacientes, ao desenvolvimento de vacinas e aos estudos de novas variantes do coronavírus.

Protagonistas no combate à pandemia, as 69 universidades federais brasileiras tiveram cerca de 20% dos recursos para este ano cortados.

O Orçamento aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro retira mais de R$ 1 bilhão dessas instituições, comparando 2020 e 2021. Sobraram cerca de R$ 4 bilhões. Esse Orçamento é menor do que o de 2009, quando as universidades tinham menos alunos e uma estrutura muito menor.

Com isso, a maior universidade federal do Brasil, a UFRJ, terá que cortar bolsas de pesquisa e de assistência para os alunos e reduzir contratos de limpeza a partir de setembro. Isso deve atrasar a pesquisa de uma vacina contra a Covid que é desenvolvida pela universidade, já que o funcionamento de laboratórios ficará comprometido. Esse é um dos estudos mais avançados para a criação de uma vacina brasileira. Dependendo dos investimentos, ela pode ficar pronta no ano que vem.

O efeito do corte de verba na UFRJ no curto prazo é que o atendimento a pacientes nas nove unidades de saúde administradas pela universidade terá que ser reduzido, segundo a reitora Denise Pires.

“O nosso grande hospital, que abriu mais de 100 leitos de enfermaria, uma UTI destinada para Covid-19… Vai ser muito grave termos que fechar esse atendimento nas nossas unidades hospitalares. Em plena pandemia, uma universidade que não tem como pagar a empresa que presta serviço de limpeza não pode funcionar”, lamenta.

Outra universidade que encabeça o combate à pandemia, a UFMG, também terá dificuldades para manter as pesquisas – inclusive o desenvolvimento de uma vacina que poderia chegar aos braços dos brasileiros também em 2022.

A reitora da universidade mineira, Sandra Goulart, afirma que a instituição não terá recurso para os itens mais básicos neste ano.

“Mesmo que eu tenha verba para continuar a vacina, eu não vou ter verba, por exemplo, para pagar luz, água, os funcionários terceirizados, que cuidam da limpeza, que cuidam de várias áreas administrativas da universidade. Vai impactar em todas as áreas da universidade. Não dá nem para eu te citar qual seria a primeira que vai ser impactada. Nós vamos ver o que conseguimos fazer”, diz.

A Universidade Federal do Paraná passa pelos mesmos problemas. Por lá, pesquisadores também desenvolvem uma vacina que poderia ficar pronta no ano que vem. O reitor Ricardo Fonseca afirmou que isso vai depender de investimentos de parlamentares.

Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), muitas universidades podem não conseguir voltar com as aulas presenciais por falta de verba. Atualmente, todas estão em ensino remoto. E uma retomada vai gerar muito mais gastos com água, luz e manutenção.

As federais não são as únicas universidades que sofreram cortes com o Orçamento assinado pelo presidente na semana passada. Até mesmo a pesquisa de uma vacina contra a Covid-19 desenvolvida na USP terá redução de verba: R$ 200 milhões a menos. O imunizante havia sido apresentado pelo Palácio do Planalto como um dos mais promissores do país. Procurada pela CBN, a Universidade de São Paulo informou que discute o assunto com o governo federal, e ainda não vai se manifestar.

Procurado pra comentar o corte no orçamento das universidades, o Ministério da Educação disse apenas que analisa os possíveis impactos.

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